No dia 15 de Dezembro de 1944, nascia, na cidade de Xapuri, no Acre, Francisco Alves Mendes Filho, mas conhecido como Chico Mendes. Chico foi um seringueiro, ativista ambiental e visionário.
Muito pobre, assim como a maioria das famílias da região, Chico não foi à escola, mas aprendeu a ler e a escrever com um amigo de seu pai, o militante comunista Euclides Távora.
Ainda jovem, com menos de vinte anos, começa a lutar pelo direito ao acesso a educação para os seringueiros, pois achava que desde modo, estes trabalhadores deixariam de ser explorados pelos senhores das fazendas.
Com o Golpe Militar de 1964, a ideia megalomaníaca da construção da "transamazônica" (lendária estrada que passaria por toda a região amazônica) foi posta em prática. O desmatamento desenfreado da floresta se agravou ainda mais com a chegada de fazendeiros vindos do sul e sudeste do Brasil, que, patrocinados pelo governo federal, vieram colonizar a região amazônica. Porém, esses fazendeiros não contavam com a presença de diversas famílias que moravam no meio de suas recém-adiquiridas propriedades e que dependiam da mata para sobreviver. Para eliminar as famílias de suas terras (e as árvores), foram contratados peões. Chico juntou alguns companheiros e criou o movimento do Empate, que tinha como objetivo, o diálogo com esses peões para tentar convencê-los de que, derrubando a floresta, muitas famílias ficavam sem renda e sem ter para onde ir.
Nessa época, Chico virou um dos inimigos do governo e sabia que estaria marcado para morrer se continuasse com tais ideias.
Chico Mendes |
Na segunda metade da década de 1970, Chico Mendes começou a almejar uma cooperativa, para que os seringueiros, unidos, conseguissem lucrar mais com seu trabalho. Nessa época, ele conheceu uma das peças-chaves para o desenvolvimento dessa ideia, sua grande amiga, a antropóloga Mary Allegretti. Ela o ajudou a desenvolver uma das soluções para um problema que ele já sabia que existia a tempos, a educação. O analfabetismo e a ignorância dos seringueiros, era conveniente, pois deste modo, os poderosos poderiam os fazer de marionetes. Mary, Chico e a comunidade unida, depois de muita luta, conseguiu construir escolas de educação básica.
Nos anos 1980, com a fundação do PT, Chico alia-se ao partido e concorre a deputado, até mesmo, porque se ele se elegesse, ficaria mais protegido, já que estava jurado de morte. Nessa mesma época, conhece a jovem Marina Silva. Ela, que sonhava se tornar freira, conheceu Chico Mendes através de um cartaz na igreja, chamando para uma das reuniões de seringueiros; ela acaba por se envolver com a causa e abandona a igreja pela política. Nem Chico nem Marina foram eleitos.
As estradas da transamazônica causavam tanta destruição na floresta amazônica que ficava até mesmo difícil para os aviões do aeroporto de Rio Branco pousarem, por causa da fumaça das queimadas. Chico Mendes então, mesmo sem falar uma única palavra em inglês, vai à Washington, capital dos EUA, e convence o país a parar de patrocinar a estrada transamazônica. Depois dessa "afronta" ao governo, a cabeça de Chico começou a valer uma grana boa aqui no Brasil. Em contrapartida, no exterior era visto como herói e chegou a receber o prêmio "Global 500", oferecido pela ONU para pessoas que lutam pelo meio ambiente.
Em Dezembro de 1988, Chico, que estava no Rio de Janeiro para se proteger dos pistoleiros no Acre, almeja retornar para sua família em sua cidade natal, para passar as festas de fim de ano com eles. Mesmo com dois seguranças a sua disposição 24 horas por dia, no dia 22, atiram em Chico em sua própria casa. Os criminosos, Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, foram condenados a 19 anos de prisão.
Depois de sua morte, o então presidente José Sarney, aprova o projeto que criaria as Reservas Extrativistas, que são porções de terra na Amazônia, onde seringueiros/castanheiros podem viver sem que haja uma noção de propriedade definida e onde possam usufruir das riquezas da mata para sobreviverem. A maior delas no Acre, se chama Reserva Extrativista Chico Mendes, com cerca de 1 milhão de hectares.
Não restam dúvidas de que Chico Mendes foi um visionário, que estava muitos anos a frente do seu tempo. Ele contribuiu ao mesmo tempo para a sobrevivência e melhora de vida dos trabalhadores que viviam na mata e dela dependiam e para a preservação da Amazônia, em uma época que se achava que progresso era sinônimo de desmatamento, grandes prédios e construções gigantescas.
Obs.: a inspiração para o texto veio ao assistir esse documentário superinteressante:
Abraços,
Nat Magal
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